quinta-feira, 21 de maio de 2015

Início da Grande Viagem de carro pelo sul do Brasil e América do Sul

 

Tudo começou com um sonho, na realidade só mais uma olhada no mapa. Não sei muito bem quando tudo isso começou, essa vontade avassaladora de conhecer o mundo, de caminhar sobre relevos e _MG_2721vislumbrar bacias hidrográficas, como se estivesse passeando em um livro de geografia. Fui descobrindo aos poucos que viajar é aprender por osmose, pois as coisas que vemos, as pessoas que encontramos passam por nossa pele, encontram nossa alma e imprime uma marquinha bem lá no fundo, fazendo com que vc se sinta também parte daquele lugar. Assim acontece comigo. Todas as vezes que conheço um novo lugar todos os meus sentidos ficam em alerta, tentando apreender ao máximo tudo aquilo que estou vendo. O lugar, as pessoas, o cheiro.... Quando digo isso me vem a lembrança o cheiro do Uruguai, suas estradas cheiravam a chá verde. Rodava alguns quilômetros e outra vez o cheiro de chá me adentrava as narinas, as vezes era hortelã, outras capim santo, é difícil definir, só sei que era delicioso. E foi assim que esse cheiro ficou impresso pra mim. O Uruguai tem cheiro de chá verde!. (Foto: Entardecer de algum lugar de Buenos Aires- Arg)

Foram 7000 km e 21 dias na estrada…! Mas vou para o início, antes de chegar ao Uruguai conhecemos o Sul do Brasil. A primeira parada foi Curitiba, capital do Estado do Paraná, o qual eu já havia conhecido há muitos anos atrás, quando estive em Cianorte. Até a chegada a Curitiba tivemos de vencer inúmeras batalhas. A primeira delas foi contra nós mesmas. Afinal, erámos três mulheres, eu, Valéria, e minhas amigas Susy e Giane, que decidimos ir até o Chile em um Pálio 1.0 com quinze anos de uso. Detalhe, só eu dirigia. Seria uma epopéia, uma grande aventura para nós. Muitas pessoas nos taxaram de loucas e coisas do tipo. Mas acredito que temos de lutar pelos nossos sonhos, independente do que o outro diga. Eu acreditava que era possível fazer isso tranquilamente, sem estar cometendo nenhum desatino. A ideia da viagem surgiu no início de 2014, quando voltamos de uma outra viagem de carro que fiz com meus amigos até a Paraíba. Foi basicamente a mesma ideia, mas em vez de subir no mapa iríamos descer, como só tinha três estados na parte de baixo iríamos “invadir” os países vizinhos. Falamos durante um bom tempo, mas começamos a realmente planejar em meados de setembro. Comprei o guia O Viajante América do Sul, que deu todas as dicas que precisava, desde documentação do carro até qual rota fazer.  Pesquisei em vários sites e fui percebendo que não era uma coisa tão absurda assim.

_MG_1345

Início de nossa viagem em São Paulo, acessamos a BR 116 por Taboão da Serra, próximo ao bairro do Campo Limpo, zona sul da cidade…

Com planejamento podia dar certo, e deu! Tirei o passaporte, que não é necessário nos países que fazem parte do mercosul, mas achei importante por conta dos carimbos que podem ajudar a tirar o visto para outras viagens. Tomei vacinas obrigatórias, verifiquei as moedas de cada país, fui até uma casa de câmbio pela primeira vez na vida, trocar reais por dólares e pesos argentinos, e arrumei mais mil coisas até estar tudo organizado para no dia 27/12/2014 ligar o carro e seguir para pegar a Gi. Sempre achei que eu poderia ter uma parada cardíaca nesse trajeto, rssss, pois estaria sozinha e com toda a ansiedade do mundo. Imagina sair de casa e saber que iria voltar só depois de vinte dias, sabendo que iríamos “ali” no Chile! Não tive a parada cardíaca e cheguei na casa da Gi, atrasada, ela já estava quase morrendo de ansiedade. Rumamos pra casa da Susy, que mora no Capão Redondo. Giane e eu moramos na região do Grajaú. Tudo isso pra nós é emblemático, pois moramos em bairros pobres da periferia de São Paulo, e teríamos a chance de fazer algo que a maioria das pessoas do nosso bairro nem sonham em fazer. Não “sonhar” é exatamente o que acontece com as pessoas. A maioria se perde em seu cotidiano lutando pra sobreviver e não consegue olhar o horizonte. A questão não é financeira, são escolhas que cada um faz. Nós escolhemos sair de nossa tribo e conhecer outras culturas. É isso, queríamos saber como as outras tribos vivem. Na casa da Susy nos demos conta do que estávamos fazendo, arrumamos a bagagem dela e descobrimos que estávamos levando MUITA COISA! Rssss. Confesso que sou meio exagerada, ainda mais numa situação assim, levei de tudo, desde panelas para cozinhar nos hostels até óleo para o carro. Tinha certeza que não passaríamos apuro, pois estava levando tudo o que era necessário para nossa sobrevivência durante a viagem.  Da casa da Susy partimos sentido BR 116, conhecida como Régis Bittencourt. Meu irmão já havia dado a dica de como acessar a rodovia ali pelo Campo Limpo. Enchemos o tanque, apertamos os cintos e bora pra estrada!

_MG_1370

Entre as montanhas da estrada rumo a Curitiba- PR, a aventura tinha começado!

Confesso que o medo existia, erámos três mulheres sozinhas pelas estradas afora, eu particulamente tinha um medo maior, porque somente Eu! sabia dirigir, se algo acontecesse comigo poderíamos ficar pela estrada, acho que pensando nisso tomei minhas “precauções”, rsss.  Sou devota de São Miguel Arcanjo e durante toda a viagem fomos bem protegidas. Comprei um escapulário de São Miguel, que usei a viagem toda, e colei uma imagem pequena no painel do carro. Toda vez que sentia algum perigo olhava pra ela e pedia força a São Miguel. Todos os dias que pegávamos a estrada fazíamos juntas nossas orações de proteção. E foi assim que pegamos a BR e partimos pra Curitiba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário